Quanta saudade dos bons tempos de Granbery,
meu orgulho de menino Granberyense. Devo escrever sobre
isto?... e lá se vão 66 anos... Saudade dos amigos, professores,
vitórias, derrotas! Sonhos. Sim, tenho coragem, vou escrever sobre o
professor mais sábio, marcante, competente, bravo, durão... Mas, ai!
Dúvida atroz me envolve. Qual seria o mestre de meu tempo? O mestre ou
mestra que marcou minha vida? Seria a professora Irene Montes? Talvez
sim, pois até hoje guardo, com carinho ciumento, meu caderno de desenho,
com frases de profunda filosofia como: “Quem semeia nuvens, colhe
tempestade” e “Não desanimes nunca, se isto acontecer, continue
trabalhando”. Ih! Como esquecer o prof. João Panisset, meu professor em História Geral?
Afinal, tirei 10 o ano inteiro, e ele feliz: “Este menino sabe muito...”
O Julio Camargo, na Geografia, era ‘demais’ e nos desafiava: “Aquele que
tirar 10, nas provas ganha um mês de cinema”. Não me lembro de que
alguém tenha ganhado o prêmio. E quando chegava à sala, nos mandava
abrir o Atlas de Aroldo de Azevedo, citando a página certa, de cor.
Discorria sobre o tema com total segurança. “Rios da margem esquerda;
cidades à margem direita, ferrovias e distâncias, populações”. Em uma
prova final não tive tempo de escrever tudo que sabia e ele compreendeu,
viu que fora questão de tempo e elevou minha nota (a dissertação valia
quatro pontos, ele me deu seis). Querido professor... Acho que foi você,
meu tipo inesquecível. Não sei não... Temos um porém, como olvidar Paulo
Henriques, o mestre,
em Matemática. Ele nos enfiava pela goela abaixo, sem
dificuldades, conceitos aritméticos e detestava quem não punha o traço
de fração exatamente na horizontal. Jamais esquecerei do professor
Augusto Gotardelo, grande na língua portuguesa, didática insuperável.
Ele pegava do ‘machado’ abria minha cabeça e despejava ensinamentos como
este: “Acentuam-se todas as palavras proparoxítonas:
pêssego, lâmpada, límpido”. E
muito mais, o ano inteiro. Obrigado, professor! Você ensinou-me amar a
língua pátria. Repouse na mansão dos bem-aventurados. Afirmo que você me
ensinou tudo que sei de nosso idioma. Seria, também, inominável
injustiça esquecer nosso professor de inglês, Irineu Guimarães. Não
tenho adjetivos para qualificá-lo, ele excede todos. Foi tão amigo que o
elegemos nosso paraninfo. Este extraordinário mestre, veio neste planeta
Terra para semear o bem. Ao encerrar a carreira, no magistério, foi
cuidar de crianças carentes, do berço ao casamento, através do Instituto
Dona Selva. Não paremos aqui, temos muito mais a lembrar à medida que as
brumas da memória vão se desfazendo. Quem sabe dona Marta Waltenberg foi
a inesquecível mestra e orientadora de minha juventude? Ela, além de
aulas aos alunos da 5ª série do primário, dirigia o dormitório
dos meninos, onde eu ficava junto a outros colegas. Os nomes, da maioria
deles, perdidos nos escaninhos do meu cérebro, mas ficou o apelido do
menino de Uberaba: Arnaldo Mendes, meu colega de quarto. Ocorrem-me,
também, os nomes Dirceu, Pacífico e Ronaldo Gori, este tão pequenino,
que dormia no apartamento de dona Marta, no fim do corredor do
dormitório. Ela promovia uma espécie de campeonato de camas bem
arrumadas. Um dia comentou no refeitório, lotado de alunos internos: “A
cama do Asséde parece um ninho de guaxo”. Gargalhada geral e eu morto de
vergonha. Ah! Quando após 25 anos revisitei o Granbery, fui à sala onde
Marta lecionava português aos meninos e meninas do primário. Ela ficou
tão feliz ao me rever, que pôs todos de pé para me aplaudir. Foi um
momento mágico em minha vida. Cito, também, a professora, excelente
mestra, de aritmética do 5º primário: Hermínia Coutinho, esguia,
morena, óculos de grau e enorme bondade. Lembro-me, perfeitamente, da
diretora Carolina Coelho, que entrava na sala para entregar os boletins
mensais. Uma vez tirei dez em tudo, i.é., em todas as matérias e ela
escreveu “parabéns nos estudos”, deixando nas entrelinhas que meu
comportamento deixava a desejar. Nem tudo são rosas; um professor de
‘Admissão ao Ginásio’ encarou-me e disse: Este vai ser reprovado!... E
fui mesmo. Esqueci o nome dele, não do fato. Talvez ele me tenha feito
um grande bem ao despertar meus brios e vencer. Voltemos ao ginasial,
onde o professor Romano tentava, inutilmente, nos incentivar a estudar
Esperanto. Falemos do professor Reynaldo de Andrade que, com imensa
paciência, nos fazia decorar pautas musicais, colcheias, semicolcheias,
fusas, semifusas, mínimas e semínimas, bem como cantar nas aulas de
Canto Orfeônico. Mestres inesquecíveis: Benevenuto de Paula Campos,
bondosamente nos empurrava o latim que teimávamos em não aprender;
nominativo,
genitivo,
dativo, acusativo,
vocativo
ablativo; “Fábulas de Esopo’, “De Bello Gallico” e as “Metamorfoses
de Ovídio”. Professor, Bené, desculpe, mas naquela época não consegui
entender como latim era tão importante para mim! E Nilo Ayupe, grande e
impaciente mestre, a nos ensinar Ciências. Quando nós, alunos
irreverentes, fazíamos ruído, ele dizia mal-humorado: “Vocês não me
conhecem!” Não sei por que pusemos nele o apelido de Nilo Pâncreas.
Desculpa, mestre Ayupe, era carinho só. Adivinhávamos que nele habitava
a bondade em pessoa. Absolutamente,
não cometerei o crime imperdoável de esquecer madame Zilda (Zildá),
assim dizíamos. Ela esperta no idioma francês. Seu nome completo era
Zilda de Barros Jardim. (minha memória ainda está boa). Estou divagando,
não respondi à pergunta fundamental:
Qual o
meu tipo inesquecível? São
tantas as coisas que quero dizer. O tempo exige que pare por aqui. E
ainda quero falar das ‘assembléias’ que por 10 minutos reunia todos os
alunos no salão nobre (salão Lindenberg) para louvar o Senhor. Embora
não professasse a religião Metodista, adorava o hinário e até hoje me
apanho cantando Bênçãos Divinas: “Se da vida as vagas procelosas são. /
Se com desalento julgas tudo em vão. / Conta as muitas bênçãos, dize-as
de uma vez. / “Hás de ver surpreso quanto Deus já fez.” Meu tipo
inesquecível, não foi uma pessoa física, foi e é pessoa jurídica,
entidade espiritual/material, que congregou, ao mesmo tempo, tantos bons
mestres e discípulos de primeira água e que, sob o sagrado som de um
sino, aprendemos: probidade, respeito mútuo, ética, religiosidade,
tolerância, solidariedade, ecumenismo, camaradagem, bons princípios.
Esta Entidade, este Ente inesquecível, o gigante branco chama-se
Granbery.
|