....................................................................................................................................................................................
         Centro Cultural de Benfica
SEMANA AFROBENFIQUENSE  -   (24/11/2010)

No mês da Consciência Negra, o Centro Cultural de Benfica (CCB) promove a comemoração Afrobenfiquense.

Na quarta (24/11) foi exibido BESOURO, um filme de aventura, paixão, misticismo e coragem que conta a história do maior capoeirista de todos os tempos, passado no Recôncavo dos anos 20.
Na sexta (26/11), o Centro Cultural de Benfica entregou a medalha Escravo Antônio a afrodescendentes dessa região de Juiz de Fora. Escravo Antônio fugiu da Fazenda Bemfica (grafia original) e foi noticiado no Pharol de 2 de março em 1879. Segundo o jornal, ele era jovem e violeiro. A iniciativa, que já está na segunda edição, busca resgatar e valorizar a história desse povo a partir de suas memórias. Os homenageados são pessoas que contribuíram e continuam contribuindo para a preservação da cultura afrobrasileira na localidade.

O evento contou com desfile de penteados afro, no qual as convidadas foram penteadas e maquiadas em salões, que gentilmente contribuíram com seus trabalhos. Entre eles Salão Perfil, tendo Soninha como responsável pelos penteados de Franciely de Cássio dos Santos e Gabriela Fernandes Silva Costa; Salão Cici, onde Valda cuidou do penteado de Eloísa Rita do Nascimento e Salão Dani que penteou Rosa Marlene da Conceição Costa e Patrícia Eloah dos Santos Costa.

Uma linda apresentação musical conduzida por Rita de Cássia, encantou o público, que aplaudiu de pé. Nadir, uma das "Vanderléias", também  emocionou com sua bela voz.

A jornalista Aline Junqueira e o artista plástico Lúcio Rodrigues, lançaram o projeto Anguzada, que foi aprovado neste ano pela lei municipal de incentivo à cultura Murilo Mendes.
   
 
   
Saiba mais sobre os agraciados da noite.

O patriarca, Sr. José, funcionário da antiga Central, veio de Lima Duarte para Benfica no início da década de 50 para tratamento de saúde. Acabou não resistindo e suas filhas decidiram não voltar mais. A mais velha, Maria Augusta, a Guta, de 78 anos de idade, lembra-se que no carnaval, o clube de Lima Duarte permitia apenas um dia para os negros. O pai, um apaixonado pelo carnaval, fundou o bloco Estrela, e até obrigava todo mundo da família a sair nele. Por conta dessa paixão, a família acabou formando um bloco em Benfica que em 1972 foi oficializado. Inicialmente, o bloco era chamado Primavera, mas quando foram registrar a escola, já existia uma outra com este nome em Matias Barbosa. Naquele momento, eles se tornaram “Rivais da Primavera”. As duas outras filhas, Regina e Teresa, aos 62 e 70 anos respectivamente, foram professoras de escolas públicas. Hoje, aposentadas, vivem para o carnaval, alegres na quadra, tentando arrecadar fundos com canjiquinhas, feijoadas e, claro, muito samba. Para elas, a escola integra gerações e ainda trabalha a cultura e a história.

Maria Delfina Martins, lavadeira

Dona Maria, aos 85 anos, se queixa um pouco dos problemas da idade. Apesar das dores, ela continua alegre e canta a mesma música que embalava seus anos de trabalho como lavadeira na região, a marchinha “Me dá um dinheiro aí”. Ela e o marido vieram na década de 60 também de Lima Duarte. Uma das histórias da família é que seu Altair se escondeu debaixo da cama com medo de ser levado pelos soldados em 1964. Ele foi varredor das ruas de Benfica e zelador do Museu Mariano Procópio até se aposentar. Em 2007, faleceu, mas Dona Maria, sorri ao lembrar dos 63 anos de vida juntos, criando os sete filhos, com trabalho e amor.

Paulo Elias Gomes, mestre de capoeira e líder comunitário

Mestre Paulo Elias teve contato com a capoeira aos 11 anos de idade, assistindo as rodas nas ruas e nas escolas de samba de Juiz de Fora. Na década de 80, entrou de vez no mundo desse esporte-arte genuinamente afrobrasileiro. Hoje, aos 46 anos, ele atua no movimento capoeirista, sendo fundador do Conselho Deliberativo da Capoeira. Assessor do vereador Castelar (PT) contribui na mobilização e elaboração leis a favor da igualdade racial, para a valorização da cultura afrobrasileira e popular e para o movimento comunitário. Morador do bairro Vila Esperança II, desde 1995, ele mantém por conta própria um projeto de capoeira para crianças e adolescentes no galpão da associação dos moradores. Entre as conquistas que participou, está o dia Municipal da Capoeira, em vigor a partir deste ano.

Guanair da Silva Santos, pároco de Benfica

Padre Guanair da Silva Santos é o primeiro pároco negro da região. Incentivador do diálogo inter-religioso, ajudou a fundar o Grupo Axé Criança (em 1997), visando fortalecer a auto-estima da criança negra, no bairro Ipiranga em Juiz de Fora/MG. Foi eleito primeiro presidente do Conselho Municipal para Valorização da População Negra da cidade (2000-2002) e também um dos fundadores do FEAFRO (Fórum de Entidades Afrodescendentes), visando reflexão sobre a religiosidade dos negros da diáspora e diálogo de aproximação entre os membros de várias casas de culto com a religião cristã. É presidente do Intituto Mariama, Associação de Bispos, Presbíteros, e Diáconos Negros do Brasil, entidade que ajudou a fundar em 1988, ligada à CNBB através da Pastoral Afro. Recentemente, foi nomeado para representar este movimento no Conselho Nacional da Igualdade Racial.

Alvino Raul dos Santos, patriarca das “Vanderléias” – in memorian

Nascido em Paula Lima (02/02/1925), morava em Dias Tavares. Trabalhou na roça e depois na Central. Veio em 1955, quando adquiriu sua casa própria no bairro Jardim de Fátima, que antes era conhecida como região da Várzea. Casou-se com Lina, com quem teve uma história de amor que gerou sete filhas. Tinha muito ciúme da esposa que trabalhava em casa, lavando roupas. Músico, gaitista e sanfoneiro, ele deixou uma grande herança, o dom musical. Religioso, ia com toda a família às celebrações e elas cresceram cantando na igreja. As irmãs negras eram conhecidas como “As Vanderléias”, em alusão à cantora loura da jovem guarda. Ganharam vários festivais e chegaram a ir a programa de TV no Rio. Muito severo na educação das suas meninas, não deixou que seguissem carreira em São Paulo. Sr. Alvino morreu em 11 de setembro de 2010, aos 85 anos, e seu outro legado é que suas filhas são fortes e com muito orgulho da família.

12944 visitas

Veja a SEMANA AFROBENFIQUENSE em 2009!
Outros eventos no CCB!
© direitos reservados desde 2008 -  benficanet.com divulga cultura- contato@benficanet.com