No mês da Consciência Negra, o Centro Cultural de Benfica (CCB)
promove a comemoração Afrobenfiquense.
Na quarta (24/11) foi exibido
BESOURO, um filme de aventura, paixão, misticismo e
coragem que conta a história do maior capoeirista de
todos os tempos, passado no Recôncavo dos anos 20.
Na sexta (26/11), o Centro Cultural de Benfica entregou a
medalha
Escravo Antônio a afrodescendentes dessa região de Juiz de
Fora. Escravo Antônio fugiu da Fazenda Bemfica (grafia original)
e foi noticiado no Pharol de 2 de março em 1879. Segundo o
jornal, ele era jovem e violeiro. A iniciativa, que já está na
segunda edição, busca resgatar e valorizar a história desse povo
a partir de suas memórias. Os homenageados são pessoas que
contribuíram e continuam contribuindo para a preservação da
cultura afrobrasileira na localidade.
O evento contou com desfile de penteados afro,
no qual as convidadas foram penteadas e maquiadas em salões, que
gentilmente contribuíram com seus trabalhos. Entre eles Salão
Perfil, tendo Soninha como responsável pelos penteados de
Franciely de Cássio dos Santos e Gabriela Fernandes Silva Costa;
Salão Cici, onde Valda cuidou do penteado de Eloísa Rita do
Nascimento e Salão Dani que penteou Rosa Marlene da Conceição
Costa e Patrícia Eloah dos Santos Costa.
Uma linda apresentação musical conduzida por Rita de Cássia,
encantou o público, que aplaudiu de pé. Nadir, uma das "Vanderléias",
também emocionou com sua bela voz.
A jornalista Aline Junqueira e o artista plástico Lúcio
Rodrigues, lançaram o projeto Anguzada, que foi aprovado
neste ano pela lei municipal de incentivo à cultura Murilo
Mendes.
Saiba mais sobre os agraciados da noite.
O patriarca, Sr. José, funcionário da antiga Central, veio de
Lima Duarte para Benfica no início da década de 50 para
tratamento de saúde. Acabou não resistindo e suas filhas
decidiram não voltar mais. A mais velha, Maria Augusta, a Guta,
de 78 anos de idade, lembra-se que no carnaval, o clube de Lima
Duarte permitia apenas um dia para os negros. O pai, um
apaixonado pelo carnaval, fundou o bloco Estrela, e até obrigava
todo mundo da família a sair nele. Por conta dessa paixão, a
família acabou formando um bloco em Benfica que em 1972 foi
oficializado. Inicialmente, o bloco era chamado Primavera, mas
quando foram registrar a escola, já existia uma outra com este
nome em Matias Barbosa. Naquele momento, eles se tornaram
“Rivais da Primavera”. As duas outras filhas, Regina e Teresa,
aos 62 e 70 anos respectivamente, foram professoras de escolas
públicas. Hoje, aposentadas, vivem para o carnaval, alegres na
quadra, tentando arrecadar fundos com canjiquinhas, feijoadas e,
claro, muito samba. Para elas, a escola integra gerações e ainda
trabalha a cultura e a história.
Maria Delfina Martins, lavadeira
Dona Maria, aos 85 anos, se queixa um pouco dos problemas da
idade. Apesar das dores, ela continua alegre e canta a mesma
música que embalava seus anos de trabalho como lavadeira na
região, a marchinha “Me dá um dinheiro aí”. Ela e o marido
vieram na década de 60 também de Lima Duarte. Uma das histórias
da família é que seu Altair se escondeu debaixo da cama com medo
de ser levado pelos soldados em 1964. Ele foi varredor das ruas
de Benfica e zelador do Museu Mariano Procópio até se aposentar.
Em 2007, faleceu, mas Dona Maria, sorri ao lembrar dos 63 anos
de vida juntos, criando os sete filhos, com trabalho e amor.
Paulo Elias Gomes, mestre de capoeira e líder comunitário
Mestre Paulo Elias teve contato com a capoeira aos 11 anos de
idade, assistindo as rodas nas ruas e nas escolas de samba de
Juiz de Fora. Na década de 80, entrou de vez no mundo desse
esporte-arte genuinamente afrobrasileiro. Hoje, aos 46 anos, ele
atua no movimento capoeirista, sendo fundador do Conselho
Deliberativo da Capoeira. Assessor do vereador Castelar (PT)
contribui na mobilização e elaboração leis a favor da igualdade
racial, para a valorização da cultura afrobrasileira e popular e
para o movimento comunitário. Morador do bairro Vila Esperança
II, desde 1995, ele mantém por conta própria um projeto de
capoeira para crianças e adolescentes no galpão da associação
dos moradores. Entre as conquistas que participou, está o dia
Municipal da Capoeira, em vigor a partir deste ano.
Guanair da Silva Santos, pároco de Benfica
Padre Guanair da Silva Santos é o primeiro pároco negro da
região. Incentivador do diálogo inter-religioso, ajudou a fundar
o Grupo Axé Criança (em 1997), visando fortalecer a auto-estima
da criança negra, no bairro Ipiranga em Juiz de Fora/MG. Foi
eleito primeiro presidente do Conselho Municipal para
Valorização da População Negra da cidade (2000-2002) e também um
dos fundadores do FEAFRO (Fórum de Entidades Afrodescendentes),
visando reflexão sobre a religiosidade dos negros da diáspora e
diálogo de aproximação entre os membros de várias casas de culto
com a religião cristã. É presidente do Intituto Mariama,
Associação de Bispos, Presbíteros, e Diáconos Negros do Brasil,
entidade que ajudou a fundar em 1988, ligada à CNBB através da
Pastoral Afro. Recentemente, foi nomeado para representar este
movimento no Conselho Nacional da Igualdade Racial.
Alvino Raul dos Santos, patriarca das “Vanderléias” – in
memorian
Nascido em Paula Lima (02/02/1925), morava em Dias Tavares.
Trabalhou na roça e depois na Central. Veio em 1955, quando
adquiriu sua casa própria no bairro Jardim de Fátima, que antes
era conhecida como região da Várzea. Casou-se com Lina, com quem
teve uma história de amor que gerou sete filhas. Tinha muito
ciúme da esposa que trabalhava em casa, lavando roupas. Músico,
gaitista e sanfoneiro, ele deixou uma grande herança, o dom
musical. Religioso, ia com toda a família às celebrações e elas
cresceram cantando na igreja. As irmãs negras eram conhecidas
como “As Vanderléias”, em alusão à cantora loura da jovem
guarda. Ganharam vários festivais e chegaram a ir a programa de
TV no Rio. Muito severo na educação das suas meninas, não deixou
que seguissem carreira em São Paulo. Sr. Alvino morreu em 11 de
setembro de 2010, aos 85 anos, e seu outro legado é que suas
filhas são fortes e com muito orgulho da família.