Medalha Escravo Antônio
fortalece a memória local! quarta edição da Semana AfroBenfiquense - 24/11/2012
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Dia 24/11,
foi realizada no Centro Cultural de Benfica a entrega da
Medalha Escravo Antônio. O objeto é um trabalho do artista plástico
Lúcio Rodrigues. Esta homenagem que busca resgatar e valorizar a memória
dos afrodescendentes da região de Benfica e este ano foram agraciados o
Professor Walter (in memoriam), Dona Nininha, Nilza França, Malvina e
Pelé Padeiro. Pela primeira vez foi disponibilizada na internet as
informações do processo de escolha, o que levou a algumas pessoas não
cogitadas inicialmente. Além do vídeo com os depoimentos, houve uma
participação do grupo de dança Expressão e Arte.
Aline Junqueira, uma das idealizadoras do projeto, afirma que não há um
critério específico de seleção, a não ser uma homenagem aos falecidos,
entre as cinco medalhas entregues. "Buscamos ouvir e perguntar às
pessoas nos mais diversos ambientes. Tentamos diversificar, para não
colocar várias pessoas que atuam em um mesmo movimento, familiares ou
vizinhos na mesma edição, mas priorizamos os mais idosos". A partir daí,
a jornalista e videomaker tenta localizar as pessoas e fazer as
entrevistas, um processo nem sempre fácil. "Tem gente que já não mora
mais na região, que já faleceu, que tem vergonha de receber a medalha.
Isso é incrível, mas já nos deparamos com pessoas que não se julgavam
merecedoras".
O evento recuperou a participação dos negros na história da
região. "Ouvimos falar das famílias tradicionais, dos
proprietários das terras que deram origem à Benfica e até tornaram-se
nomes de ruas, mas, com exceção da Ponte Preta, um bairro que se
originou de uma família de afro-descendentes, as outras famílias não tem
seus nomes divulgados", comenta a jornalista. Nestas entrevistas, Aline
descobriu que não há, por enquanto, descendentes diretos dos escravos
que trabalharam nas terras da região, mas por outro lado, muitos negros
vieram de terras próximas como Lima Duarte e Igrejinha buscando melhores
condições de vida. Trabalharam como tropeiros, retirantes, na Central do
Brasil e na Fábrica de Estojos e Espoletas de Artilharia (FEEA), hoje
Imbel.
As histórias de vida dos homenageados sempre são surpreendentes.
"É muito bacana quando a gente vai com a câmera entrevistar e consegue
despertar nessas pessoas o gosto pela palavra. Assim, elas nos revelam
'causos' como escolher entre a escola de samba ou o coral da igreja,
caso da Dona Nininha. Também contam do que gostam de lembrar como as
histórias do pai que enfrentou o cangaço, contadas por Ana França, uma
vez que o pai era um negro de Pernambuco. Mais emocionante é mostrar que
suas narrativas de superação das dificuldades são importantes para
alguém", explica Aline Junqueira.
Nininha, Catarina Silva,
filha de José da Silva Rosa e Dorvina Maria da Silva, nascida na
Ponte Preta, provavelmente das mãos da avó, Maria Catarina
Barbosa, parteira da região, não se lembra. Dona de casa, tem a
vida dedicada à música e à igreja católica, desde a
adolescência. Participou de vários corais em Juiz de Fora e
formou outros em Benfica. Atualmente, coordena o Coral da
Terceira Idade, Recanto da Alegria.
Aline
Junqueira e a homenageada Dona Nininha
Nilza França,
professora. Nascida em Juiz de Fora, veio para Benfica com oito
anos de idade, morou na FEEA por 33 anos, o paifoi motorista da
fábrica. A mãe era filha de índio com português e o pai, negro,
Nestor Luís de França. O pai contava histórias de ter enfrentado
cangaceiros, a mãe falava que era mentira, mas ela adorava e
acreditava. Uma das idealizadoras do Desfile Cívico de Benfica,
apaixonada por lecionar e por música. Também já participou de
corais. Tocava piano.
Lúcio
Rodrigues entrega a medalha à Oto Frederico e Ana Carolina
França, filhos da homenageada, Nilza França.
Malvina,
Ercy Alves da Costa, nascida em Santos Dumont em 4 de abril de
1931. Malvina é seu apelido de criança, nome da avó. Veio para
Benfica em 1942. Foi costureira de butique em Juiz de Fora por
quase 20 anos. Foi criada pelo avô, que chamava carinhosamente
de “Papaizinho”, João Gonçalves da Silva, funcionário da Fábrica
Juiz de Fora (FEEA), tocador de sanfona e organizador de bailes
no Clube Primeiro de Maio que ficava onde hoje se encontra a
Transportadora Ibor, no bairro Araújo. Torcedora “inchada” do
Moreira Futebol, time amador fundado e composto majoritariamente
pela sua família.
Dona Malvina, homenageada e a jornalista Aline
Junqueira
Professor Walter
(in memoriam). Walter Moreira da Silva,
nascido em 7 de fevereiro de 1946 e falecido em 11 de agosto de
2012.Dizia-se nascido em Goianá, mas não conheceu os pais
biológicos pois foi adotado por uma família residente na região
do Fábrica. A medalha foi entregue à ex-esposaNeuza Maria da
Silva, nascida em 1º de novembro de 1946 em Benfica mesmo. Ela
conheceu o professor em 1963 e casaram-se no ano seguinte. Ela
contou que por serem negros e educadores, sofreram preconceitos
sim, mas com o carisma, educação e inteligência de Walter, ele
foi vitorioso. Ela acredita que em Benfica ele se realizou.
Dona
Neuza e seu filho Daniel
Moreira, recebem a medalha
em homenagem ao falecido esposo, Professor Walter.
Pelé Padeiro,
Alexandre Lucas, nascido em 1955, em Paula Lima. Veio para a
região de Benfica em 1962. É um dos primeiros moradores da Vila
Esperança quando toda a região era conhecida como Santa Teresa,
mas morou em vários lugares próximos. Comerciante nato, iniciou
a venda de pães na bicicleta por sugestão de um proprietário de
uma padaria em Santa Cruz. Rapidamente ficou conhecido, pela sua
simpatia e a buzina especial. Percorria toda a região rural
também e levava outras coisas além dos pães para os moradores.
Chegou a vender 4.500 pãezinhos de 50g por dia, rodando somente
pela manhã. Padeiro mesmo, não gosta de confeitaria, teve o
próprio negócio, mas acabou deixando o ramo, apesar de gostar
muito. Infelizmente, Pelé não pode
comparecer no dia da homenagem.
Alcioni - Nova Era - Juiz de Fora - MG - 06/12/2012 Parabéns aos organizadores, especialmente Aline e
Lúcio, e aos merecidos agraciados, que moram na memória e no
coração de todos que crescemos em Benfica.